segunda-feira, 11 de abril de 2011

E se um cachorro fosse o seu professor?

Meus amigos estão me deixando preguiçosa. Estou ganhando poemas e textos lindos como este abaixo, que compartilho.
Bjs

E se um cachorro fosse o seu professor?

Você aprenderia coisas assim:

Quando alguém que você ama chega à sua casa, corra ao seu encontro.
Nunca perca uma oportunidade de ir passear de carro.
Permita experimentar o ar fresco do vento no seu rosto.
Quando a seu favor, pratique a obediência.
Mostre aos outros quando eles estiverem invadindo o seu território.
Tira uma sonequinha no meio do dia e espreguice antes de levantar.
Corra, pule e brinque todos os dias.
Tente se dar bem com o próximo e deixe as pessoas tocarem você.
Não morda quando um simples rosnado puder resolver a situação.
Em dias quentes, role na grama, beba bastante líquido e deite-se sob a sombra de uma árvore.
Quando você está feliz, dance e balance todo o seu corpo.
Não importa quantas vezes o outro magoe você, não se sinta culpado: volte e faça as pazes novamente.
Aproveite o prazer de uma longa caminhada.
Alimente-se com gosto e entusiasmo.
Coma só o suficiente.
Seja leal.
E o mais importante de tudo: quando alguém estiver nervoso ou triste, fique em silêncio, fique por perto e mostre que você está ali para confortar.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Análise do Poema “Profundamente”, de Manuel Bandeira - por Veridiana Rocha

ProfundamenteManuel Bandeira
Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes, cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam, errantes

Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?

— Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente.

Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci

Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?

— Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente.


__________________________________


O poema “Profundamente”, do autor pernambucano Manuel Bandeira, que está incluso no livro “Estrela da Vida Inteira”, já mostra, além de um saudosismo pela infância do eu-lírico de forma melancólica, ideais modernistas, pela quebra de paradigmas com a forma fixa e a métrica (versos livres) e a brincadeira com o campo semântico das palavras em contexto.

Interpretando o poema, pode-se dizer que o mesmo se apresenta em dois tempos distintos: o passado (quando tinha seis anos) e o presente (hoje); bem destacados pelos advérbios que aparecem no início da 1ª e da 5ª estrofes, respectivamente.

O início do texto mostra algumas lembranças do eu-lírico vividas na noite de São João, quando ele tinha seis anos e não pôde ver o final da festa, porque tinha adormecido. Então, ao acordar (possivelmente, no meio da madrugada), toda a alegria produzida pelas músicas, risadas e brincadeiras do cotidiano das pessoas daquela época tinha desaparecido, porque todos da casa estavam dormindo profundamente (no sentido literal - denotativo). No entanto, a partir da 5ª estrofe, percebe-se a mudança de tempo e a mesma angústia vivida pelo eu-lírico de não ouvir mais as vozes daquele tempo e se questiona até perceber que eles não estavam mais lá, pois haviam morrido (“dormido profundamente” no sentindo conotativo).

É interessante a brincadeira que o poeta faz com as palavras em seu sentido denotativo e conotativo (“dormir profundamente”- 4ª e 7ª estrofes); percebe-se, portanto, que se trata de um bom entendedor das palavras que o cercam e que, através de um vocabulário simples, consegue atingir temas tão profundos como a morte e a saudade.

Além disso, ele utiliza-se de alguns recursos estilísticos, como o som e, para tal, a terceira estrofe pode ajudar, pois nos quatro primeiros versos, dá para notar a constante repetição do som “s” que provoca a idéia do queimar da pólvora produzida pelo balão (“[...] Estrondos de bombas luzes de Bengala / Vozes, cantigas e risos/ Ao pé das fogueiras acesas. / No meio da noite despertei / Não ouvi mais vozes nem risos / Apenas balões /Passavam, errantes /Silenciosamente [...]”), cuja zoada é cortada pelo advérbio de modo “Silenciosamente”, pois o som do fonema “s”, nesse caso, transmite a idéia do pedir silêncio (a onomatopéia do silêncio “siiii...”), uma vez que, tudo estava calmo, sem zoadas ou sons e quando acontecia algum ruído, era porque um ou outro bonde que passava “cortando o silêncio como um túnel” (comparação).

O poema, através de um simples vocabulário, atinge temas tão profundos, de forma criativa, simples (utiliza-se de fatos do cotidiano das pessoas daquela época na noite de São João) e saudosista; típicas características desse autor pernambucano que não só marcou a literatura local, como a do Brasil como um todo.


Referências

BANDEIRA, Manuel. Estrela da Vida Inteira. 8. ed. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1980.

Por: Veridiana Rocha
Veridiana Rocha
Publicado no Recanto das Letras em 19/03/2007
Código do texto: T417676



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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

TREM DE FERRO - poema de Manuel Bandeira

Trem de Ferro
Café com pão
Café com pão
Café com pão

Virge Maria que foi isso maquinista?

Agora sim
Café com pão
Agora sim
Voa, fumaça
Corre, cerca
Ai seu foguista
Bota fogo
Na fornalha
Que eu preciso
Muita força
Muita força
Muita força
(trem de ferro, trem de ferro)

Oô...
Foge, bicho
Foge, povo
Passa ponte
Passa poste
Passa pasto
Passa boi
Passa boiada
Passa galho
Da ingazeira
Debruçada
No riacho
Que vontade
De cantar!
Oô...
(café com pão é muito bom)

Quando me prendero
No canaviá
Cada pé de cana
Era um oficiá
Oô...
Menina bonita
Do vestido verde
Me dá tua boca
Pra matar minha sede
Oô...
Vou mimbora vou mimbora
Não gosto daqui
Nasci no sertão
Sou de Ouricuri
Oô...

Vaou depressa
Vou correndo
Vou na toda
Que só levo
Pouca gente
Pouca gente
Pouca gente...
(trem de ferro, trem de ferro)